Conversando com o Veterinário
São Luís, 27 de fevereiro de 2025 – No especial de fevereiro do quadro “Conversando com o Veterinário”, o CRMV-MA tem a honra de entrevistar o médico-veterinário e ex-presidente da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED), Sebastião Cardoso Anchieta Filho. Natural de São Luís, Sebastião Anchieta construiu uma carreira sólida no setor agropecuário do Maranhão.
Iniciou seus estudos no Colégio Zoé Cerveira, passou pela Escola Técnica Federal do Maranhão, onde cursou o ensino técnico e o ginásio, e, em seguida, prestou vestibular para Medicina Veterinária. Embora tenha tentado ingressar na área de Zootecnia em Recife (PE), foi na Medicina Veterinária que encontrou seu caminho e concluiu sua formação na Federação das Escolas Superiores do Maranhão (FESM) – atual Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Após sua graduação, teve a oportunidade de estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URGS), mas retornou ao Maranhão e iniciou sua carreira profissional em 1981, na Companhia de Defesa Agropecuária do Maranhão (CODAGRO), durante o governo de João Castelo (1979-1982). Lá, atuou em projetos de inseminação artificial e assumiu a coordenação de produção animal na Secretaria de Agricultura do Estado do Maranhão em 1982.
De 1991 a 1997, Sebastião foi diretor da CODAGRO e, posteriormente, trabalhou como diretor técnico da companhia. Em 1997, passou a integrar a Secretaria de Agricultura e, em 2002, foi convidado a assumir a presidência da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED), cargo que ocupou por duas vezes, tornando-se um marco na defesa contra a febre aftosa e outras doenças que afetavam o setor agropecuário.
Na entrevista, ele também destaca com entusiasmo o avanço da tecnologia no setor agropecuário, como o uso de máquinas na produção de grãos, o que tem contribuído para aumentar a produtividade e reduzir os custos. No entanto, ele expressa preocupações sobre o cenário educacional no Brasil, especialmente no que se refere ao aumento descontrolado de universidades e faculdades de Medicina Veterinária.
Confira agora a entrevista na íntegra!

CRMV-MA: Sempre começamos as entrevistas com essa pergunta, buscando entender como tudo começou na carreira dos nossos entrevistados. Então, gostaríamos de saber: como foi sua trajetória até a escolha da Medicina Veterinária? O que influenciou essa decisão?
Sebastião Anchieta: Desde pequeno, eu já tinha uma relação muito próxima com a vida rural. Meu pai tinha uma propriedade em Santa Rita, onde criava gado e leite. Eu acompanhava de perto esse universo e, aos 12 anos, já representava meu pai em negociações de venda de gado. Essa convivência com a pecuária foi essencial para minha escolha pela Medicina Veterinária. Mesmo com algumas brincadeiras de colegas sobre a profissão, o desejo de atuar nessa área foi crescendo.
CRMV-MA: Em 1981, o senhor iniciou sua carreira profissional na CODAGRO. Como foi essa experiência e qual o impacto que teve na sua trajetória?
Sebastião Anchieta: Foi uma oportunidade fundamental para minha carreira. Em 1981, o Maranhão enfrentava grandes desafios no setor agropecuário, e a CODAGRO foi criada para dar conta de questões como a inseminação artificial, que era um projeto importante do Estado. Eu fui avaliado e aceitei o desafio de começar a trabalhar lá, o que representou um marco na minha trajetória profissional. Durante minha atuação na CODAGRO, conseguimos avançar em várias frentes importantes para o setor agropecuário.
CRMV-MA: Em 2002, o senhor foi nomeado presidente da AGED. Quais foram os maiores desafios nesse processo de criação da agência e como a instituição contribuiu para o combate à febre aftosa no Maranhão?
Sebastião Anchieta: O principal desafio foi estruturar a AGED do zero e garantir que ela fosse eficaz na defesa agropecuária do estado. Em 2002, o Maranhão estava classificado como “risco desconhecido” em relação à febre aftosa, e nossa missão era mudar isso. Criamos a carreira de fiscal agropecuário e montamos uma equipe qualificada para atuar em todo o estado. Com a criação da AGED, conseguimos aumentar a eficiência do controle de doenças no setor agropecuário, passando para a classificação de “risco médio” até 2009. Hoje, o estado está livre de febre aftosa com vacinação, aguardando a próxima classificação internacional.
CRMV-MA: Quais inovações foram implementadas na AGED durante esse período para aprimorar a gestão da defesa agropecuária no Maranhão?
Sebastião Anchieta: Uma das maiores inovações que trouxemos foi a informatização da Guia de Trânsito Animal (GTA). Isso facilitou muito a comunicação entre técnicos, pecuaristas e a agência, além de otimizar a fiscalização e o controle de doenças. Também conseguimos, com o apoio do governo (estadual), fortalecer o setor agropecuário, abrir novas oportunidades de emprego e preparar o estado para a comercialização de seus produtos no mercado global.
CRMV-MA: Em relação à educação no país, qual é a sua visão sobre o tema? O senhor tem alguma preocupação? E como isso impacta o futuro das profissões ligadas à agropecuária, como a Medicina Veterinária?
Sebastião Anchieta: A grande preocupação é que o Brasil tem aberto muitas universidades e faculdades de Medicina Veterinária sem uma avaliação crítica sobre a demanda do mercado. O número de profissionais formados está crescendo, mas as oportunidades de emprego não acompanham esse aumento. Além disso, com a evolução das tecnologias, várias profissões, inclusive na área agropecuária, estão mudando, e é fundamental que o ensino esteja alinhado com as necessidades do setor. Devemos garantir que os profissionais sejam bem preparados para enfrentar os desafios do mercado de trabalho.
O CRMV-MA agradece ao médico-veterinário Sebastião Anchieta por compartilhar sua trajetória inspiradora e sua contribuição fundamental para o setor agropecuário do Maranhão. Seu compromisso com a defesa sanitária e a valorização da profissão é um exemplo de dedicação e visão para o futuro da Medicina Veterinária e do agronegócio no estado.
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